“Foi no curso técnico de canto lírico que me encontrei”

Indígena da etnia Huni Kuin, aluno do curso técnico de canto lírico, defende a qualificação para a carreira de artistas

Primeiro aluno do curso técnico de canto lírico indígena do Brasil, Nelis Leão, de 23 anos, é da etnia do povo Huni Kuin e estuda na instituição Centro de Educação Profissional de Música Walkíria Lima do Macapá (AP).

De acordo com Nelis, o corpo docente sempre trouxe um repertório diversificado, racializado e étnico na sua formação. “Sou do canto lírico há mais de oito anos. Muitas vezes as pessoas colocam esse canto em um pedestal por aparentar ser uma técnica muito difícil e achar que é preciso cantar muito bem, mas não é bem assim. O que existe é esforço e dedicação necessária para conquistar os objetivos”, explica.

Ele afirma que a ancestralidade da região afeta muito o conceito que pratica e estuda no seu curso, influenciando a cultura e a estética. “A identidade macapaense traz muitos elementos místicos, vindos da saquerada, do carimbó e do marabaixo, todos elementos afro-indígenas,” relembra.

Por residir em um município sem ópera, orquestra sinfônica ou filarmônica, há desafios de estudar canto lírico, por isso o estudante reflete a importância de continuar os estudos após a finalização do curso técnico. Nelis Leão está ciente de que bons artistas em seu estado não são tão reconhecidos nacionalmente e deseja acabar com esse estigma. “A arte aqui, além de ser muito valorizada, é muito forte. É muito importante ter uma escola pública com cursos voltados para artes, de modo geral. Eu acredito que seja de bom cunho para todos, principalmente para aqueles que querem viver disso, se especializar e se qualificar”, comenta.

Por fim, ele afirma que é possível trabalhar como artista sem ser musicista, mas defende o aprimoramento musical que é adquirido por meio da formação musical, na Educação Profissional e Tecnológica, ainda que sejam oferecidas poucas vagas nessa área. “O repertório de legato, portamento e coloratura aprendidos durante o curso influenciou muito na minha técnica de canto, por exemplo. O ensino técnico funcionou muito bem para mim e pode funcionar para mais pessoas”.
 

(Depoimento dado à equipe do Itaú Educação e Trabalho em setembro de 2024)

 
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