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Sete formas de aproximar escola e empresa para fortalecer cursos técnicos

Capacitação

Diálogo entre setor produtivo e universo escolar melhora qualidade de oferta nas redes estaduais de ensino

A aproximação entre escolas e empresas é uma forma eficaz para melhorar a qualidade e a relevância dos cursos técnicos de nível médio. Quando o currículo ofertado pelas redes de ensino dialoga claramente com o setor produtivo e as práticas pedagógicas refletem o mundo real e atual do trabalho, os estudantes saem mais bem preparados, o setor produtivo encontra profissionais adequadamente qualificados e as comunidades locais geram desenvolvimento local e econômico e desenvolvem os estados.

Nos anos recentes, experiências em diferentes estados brasileiros apoiados pelo Itaú Educação e Trabalho (IET) mostram que essa integração é possível, estratégica e transformadora. Sete delas estão listadas a seguir.

1. Elaboração conjunta de currículos e avaliações 
O caso de Itabaianinha (SE) é um exemplo inspirador. Ali, o desenho participativo do curso técnico em modelagem do vestuário envolveu desde o início a Associação da Confecção de Itabaianinha (ACISE), a Secretaria de Estado da Educação e o Colégio Monsenhor Olímpio Campos. Essa parceria gerou um currículo alinhado às reais demandas da indústria local e uma avaliação técnico-específica, capaz de mensurar as competências práticas dos estudantes, ou seja, o “saber-fazer”. Esse modelo participativo pode ser replicado em outras redes estaduais para garantir cursos mais conectados à realidade profissional e à vocação dos Arranjos Produtivos Locais (APLs), que em Itabaianinha são os polos de moda e de cerâmica.

2. Escuta ativa do setor produtivo para planejar oferta 
Em Pernambuco, a Secretaria de Educação e Esportes realizou escutas regionais estruturadas com representantes de empresas, cooperativas e órgãos públicos em diferentes pontos do estado para definir os cursos técnicos que seriam ofertados pela rede estadual algum tempo depois. A iniciativa garantiu que as novas formações para os estudantes respondessem às demandas locais de setores como energia, turismo, tecnologia e confecção. Esse tipo de consulta que mapeia habilidades e competências necessárias aos setores produtivos aproxima a oferta educacional da economia regional e dá mais sentido à formação profissional dos jovens.

3. Atualização das matrizes curriculares com base no mercado
No Paraná, comissões setoriais formadas por professores, empresários e conselhos profissionais revisaram e atualizaram as matrizes e os planos de curso de 20 formações técnicas da rede estadual, gerando uma aproximação real entre a visão mais acadêmica e pedagógica e a mais prática do setor produtivo durante a expansão da oferta do estado. O diálogo permanente entre educadores e empregadores resultou em currículos mais alinhados ao mundo do trabalho e em mais empregabilidade: o número de estudantes em estágios e programas de aprendizagem quase quadruplicou em um ano.

4. Implantação de programas estaduais de aprendizagem profissional 
O Programa de Aprendizagem Profissional (PAP) do Mato Grosso do Sul é um modelo de integração direta entre escola e empresa. Estudantes do ensino médio da rede estadual que aderem espontaneamente ao programa são contratados como aprendizes, dividindo o tempo entre a formação teórica e a prática nas empresas locais. A prospecção de empresas para as contratações é realizada por diretores e coordenadores do PAP. Essa política conduzida pela rede estadual de ensino promove inserção produtiva adequada, permanência escolar e formação de competências reais nos estudantes.

5. Realização de visitas técnicas estruturadas com viés pedagógico
Em São Paulo, um guia prático elaborado pela Secretaria do Estado da Educação orienta professores sobre como planejar e executar visitas técnicas às empresas de forma pedagógica. Essas atividades, obrigatórias em todos os cursos técnicos estaduais e realizadas periodicamente, permitem que os jovens dos cursos técnicos de nível médio conheçam ambientes reais de trabalho, aumentem seu repertório e apliquem na prática o que estão aprendendo em sala. O resultado são estudantes mais engajados, com aumento do vocabulário técnico e visão profissional aprimorada, além da aproximação de teoria e prática por conta da integração entre empresa e escola.

6. Audiências públicas e escolha participativa de cursos técnicos
O Maranhão inovou ao promover audiências públicas em que a própria comunidade, incluindo empresários, gestores e estudantes, vota para escolher os cursos técnicos que serão ofertados em cada região, durante a expansão da oferta. Essa escuta democrática é feita com base em um diagnóstico com dados socioeconômicos e arranjos produtivos locais para embasar as decisões coletivas. Ela fortalece o vínculo entre escola e território, engaja estudantes, garante aderência dos cursos à realidade local e desperta o sentimento de pertencimento da população à rede pública de ensino, incluindo o setor produtivo local.

7. Parceria entre escolas, órgãos públicos do trabalho e empresas

No Piauí, a integração entre as secretarias de educação, as escolas técnicas e a Superintendência Regional do Trabalho ajuda a estruturar e a expandir o Programa de Aprendizagem Profissional. Ao envolver diretamente os auditores fiscais do trabalho que monitoram as empresas que precisam contratar estudantes, as escolas receberam orientações sobre as ocupações mais demandadas pelo setor produtivo e sobre como alinhar seus cursos técnicos às oportunidades concretas de emprego e renda disponíveis. As empresas, por sua vez, foram convidadas a participar dos processos seletivos dentro das unidades escolares, o que fortaleceu o vínculo entre os jovens e o mundo do trabalho.