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Geledés destaca potencial das juventudes negras durante evento do Itaú Educação e Trabalho

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Em encontro sobre Educação Profissional e Tecnológica, a organização reitera a valorização da diversidade e ressalta a importância de compreender as diferentes culturas juvenis 

A filósofa e ativista Sueli Carneiro, fundadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, participou de maneira virtual do Encontro Educação e Trabalho: Perspectivas da Educação Profissional e Tecnológica, realizado pelo Itaú Educação e Trabalho no último dia 21 de setembro, em uma apresentação que trouxe para o centro do debate as oportunidades para as juventudes negras. Em vídeo, Sueli destacou a importância de ações e políticas direcionadas a essa parcela da população. “O único antídoto contra a violência que se abate contra o jovem negro no Brasil é o investimento nesses jovens, a possibilidade de desenvolverem seus múltiplos talentos. Vale a pena investir na juventude negra”.  

Nesse contexto, a filósofa reforçou o papel da educação profissional para reduzir as desigualdades sociais e a violência. “As mulheres negras são o segmento da população brasileira que tem realizado o maior esforço de escolarização. É preciso que se encontrem acolhidas nas empresas”, afirmou Sueli.  

Durante a participação do Geledés, organização que tem se destacado na promoção da educação e no empoderamento das juventudes negras, a coordenadora de redes sociais e comunicação institucional, Natália Carneiro, e a consultora em equidade de raça e gênero, Jaqueline Lima Santos, compartilharam experiências transformadoras e projetos inspiradores que estão impactando a vida de juventudes em comunidades periféricas.

"Desenvolvemos um curso de multimídia dedicado a jovens negros de 18 a 30 anos. Esse curso tem foco em ajudar esses jovens a contarem suas narrativas por meio do celular. O celular concede a esses adolescentes um senso de pertencimento à sociedade. Nosso objetivo era que esses jovens compartilhassem suas perspectivas, que não encontrassem oportunidades na criminalidade, mas sim expressassem seus desejos e expectativas na sociedade”, explicou Natália Carneiro sobre o curso de multimídia desenvolvido pelo Geledés.  

O curso é estruturado em quatro módulos que abordam temas fundamentais, como gênero, raça e direitos humanos. O diferencial do programa está na abordagem cuidadosa e na escuta ativa dos participantes.  

O Geledés compreende que muitos jovens chegam à organização desiludidos com o mundo de trabalho ou com instituições de ensino. Portanto, conquistar a confiança desses jovens é essencial. "Dentro do curso, muitos deles chegam na organização decepcionados com o mercado de trabalho por não se enxergarem, outros chegam desiludidos com a área acadêmica. Iniciam, mas desistem. Como ganhar a confiança desses jovens, que eles vão ter uma bolsa, que não é 'tchau, valeu, camaradas’? Conseguimos fidelizar esses jovens até o final do curso, por meio da escuta, eles entendem o que podem fazer", comentou Natália sobre o diferencial do curso.

Uma das chaves para o sucesso desse curso é a busca de profissionais que atendam às necessidades específicas das juventudes. "Se o mercado de trabalho diz que não encontra profissionais negros no campo da educação, mídia profissional, somos 80% profissionais pretos. Se eles não encontram profissionais trans, trazemos profissionais trans. Se não encontram profissionais com deficiência, trazemos profissionais com deficiência. Não tivemos a dificuldade de encontrar esses profissionais, encontramos eles com facilidade e capacitados”.  

A organização busca comprovar que a diversidade não é um problema, mas uma oportunidade. "A partir da preocupação do Geledés em garantir os direitos fundamentais, especialmente das pessoas pretas e das mulheres, tivemos a ideia de investigar o que esses grupos produzem dentro do contexto escolar, o que de fato os inspira a construir projetos de vida e a ter perspectivas. Percebemos que esses grupos mais marginalizados protagonizam pautas sociais e criam uma economia da cultura", comentou Jaqueline Lima Santos sobre o envolvimento ativo do Geledés em comunidades e escolas para entender como o reconhecimento das culturas juvenis pode tornar o ambiente escolar mais inclusivo e acolhedor.  

Um estudo abrangente foi realizado, entrevistando estudantes, docentes e outros atores escolares para entender como as culturas juvenis são percebidas e reconhecidas dentro das escolas.

Esse estudo revelou que as culturas juvenis, como o hip-hop, têm um grande potencial para transformar o ambiente escolar, tornando-o mais democrático e inclusivo. O hip-hop se mostrou eficaz em desafiar os modelos tradicionais de ensino e respeitar as necessidades dos estudantes. "Percebemos que essa pedagogia seria um ótimo caminho para institucionalizar a percepção dos estudantes, porque ela nega esses modelos de comportamento que não respeitam suas identidades e não atendem às necessidades dos educandos. Essa pedagogia nos desafia a identificar a potência onde ninguém vê, partindo da percepção de que precisamos entender grupos e contextos através de suas próprias lógicas de desenvolvimento. Essa simbiose tem o objetivo de pensar em um modelo que estimule o engajamento desses jovens", falou Jaqueline Lima Santos.