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Educação Profissional e Tecnológica tem terreno preparado para crescer no Brasil

Três estudos encomendados pelo IET mostram panorama de desafios e potencialidades da EPT no país

Em 2021 e 2022, o Itaú Educação e Trabalho (IET) publicou três estudos que buscam entender o cenário da inclusão produtiva de jovens no país e como o fortalecimento da Educação Profissional e Tecnológica (EPT) pode contribuir para este processo.

O primeiro levantamento, encomendado pelo IET e pela Fundação Roberto Marinho (FRM) à Plano CDE, mapeou as "Percepções dos jovens sobre o ensino técnico" de forma quantitativa e qualitativa.

Já o relatório "Engajamento de Empresas na EPT no Brasil: aprendizados de práticas internacionais", produzido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e traduzido pelo IET, analisa experiências de outros países, para sugerir recomendações para o Brasil expandir a EPT com qualidade e torná-la mais relevante para o setor produtivo.

Por fim, a pesquisa "Inclusão Produtiva de Jovens com ensino médio e técnico: Experiências de quem contrata", solicitado à Plano CDE pelo IET, FRM e Fundação Arymax, busca compreender o olhar das empresas sobre o ensino técnico e a aprendizagem profissional.

Ao cruzar os dados dos três estudos, é possível enxergar um panorama amplo da EPT no país, levando em conta as perspectivas dos principais interessados no seu desenvolvimento: os jovens e as empresas. O principal achado desta série de pesquisas é que o Brasil se tornou um terreno fértil para a expansão da EPT, já que esta modalidade de ensino une os desejos das juventudes às necessidades do setor produtivo.

De acordo com o levantamento quantitativo realizado com os jovens, 69% deles optariam pela EPT se tivessem conhecimento e acesso. O ensino técnico é visto pelos estudantes como de qualidade e uma boa opção de preparação, tanto para o vestibular, quanto para o mundo do trabalho. Enquanto isso, 75% dos entrevistados consideram que a escola regular prepara pouco ou nada para o mundo do trabalho, mas 98% gostariam de ter essa preparação.

O aprofundamento qualitativo deste estudo deixa ainda mais clara a preocupação dos jovens com o mundo do trabalho, já que a busca por emprego aparece como prioritária no discurso deles. A ansiedade por começar a trabalhar é grande, já que buscam segurança e renda mais estável, inclusive, para ingressar em um curso superior posteriormente.

Ao mesmo tempo, a pesquisa com o setor produtivo aponta que jovens formados em cursos profissionalizantes têm mais chances de conseguir um emprego formal e mais acesso a vagas em serviços de maior valor agregado do que os egressos do Ensino Médio (EM) regular no Brasil. No entanto, os formados no ensino técnico somam apenas cerca de 5% dos jovens brasileiros de 18 a 27 anos.

O mesmo estudo mostra que a maioria das empresas considera um curso técnico como diferencial e valoriza a "experiência na função" na hora de selecionar um jovem funcionário. Além disso, 53% das empresas entrevistadas afirmam estar dispostas a oferecer formação prática a estudantes, por meio de formações, de vagas de estágio ou de aprendizagem.


O desafio da expansão

Os estudos apontam que a questão da oferta e do acesso estão entre os grandes desafios para o desenvolvimento da EPT no país. O levantamento quantitativo com os jovens ajuda a compreender o baixo índice de formados na EPT e deixa ainda mais clara a necessidade de expansão da modalidade no Brasil: 77% dos estudantes entrevistados (do 9º ano do Ensino Fundamental e do 1º ano do EM) desconhecem o Ensino Técnico. Além disso, os cursos profissionalizantes são vistos como concorridos, difíceis e com baixa oferta de escolas. 

A inclusão da modalidade como um dos itinerários formativos oferecidos no Novo Ensino Médio promete contribuir para sua expansão. Mas, para isso, é preciso construir articulações entre as instâncias gestoras do ensino público e parceiros (setor produtivo, sindicatos e organizações da sociedade civil) de forma consciente e responsável, como propõe o relatório da OCDE.

Entre as recomendações para o fortalecimento do ensino técnico no país, o estudo destaca a importância de apoiar as escolas na oferta de programas que estejam alinhados às necessidades do mundo do trabalho e de facilitar o acesso à profissão de educador de EPT aos funcionários com experiência relevante no setor. Além disso, aponta como a criação de uma avaliação nacional específica para a modalidade ajudará a melhorar a qualidade dos cursos e a credibilidade da certificação.

Além de atender às demandas dos jovens e do setor produtivo evidenciadas pelos três levantamentos encomendados pelo IET, diante do cenário atual de alta no desemprego e na evasão escolar das juventudes, aumentar a inserção de jovens no mundo do trabalho com qualidade, a partir da expansão da EPT, pode se tornar uma grande estratégia nacional para o enfrentamento da crise econômica no Brasil.

A expansão da EPT é urgente para dar conta da inserção produtiva da maior geração de jovens do país, que soma cerca de 50 milhões de brasileiros de 15 a 29 anos de idade, um quarto da população. No entanto, de acordo com o "Atlas das juventudes" (que conta com o apoio do IET), "o contingente jovem brasileiro pode chegar ao fim do século reduzido quase à metade de sua magnitude atual, diminuindo as possibilidades da prosperidade da nação". Por isso, é preciso aproveitar a enorme força produtiva que existe hoje para garantir um futuro socioeconômico mais próspero para todos os brasileiros.