De acordo com estudo do Itaú Educação e Trabalho, jovens de baixo nível socioeconômico têm menos acesso à EPT
A oferta de Educação Profissional e Tecnológica no Brasil apresenta desafios de acesso para jovens de nível socioeconômico mais baixo. A conclusão é do estudo “Democratização da EPT no Brasil: Análise sobre a oferta considerando raça, gênero, condição socioeconômica e local de residência”, do Itaú Educação e Trabalho.
O indicador usado para medir a equidade de acesso à EPT na pesquisa é o Índice de Representação Descritiva (IRD), em que o valor 0 é considerado o equilíbrio total. Valores entre 10 e -10 são equilíbrio relativo, entre 10 e 30 (ou -10 e -30) são considerados desequilíbrios pequenos; entre 30 e 50 (ou -30 e -50), desequilíbrios médios; e valores acima de 50 (ou abaixo de -50) desequilíbrios altos. Valores positivos tratam de sobrerrepresentação e negativos de sub-representação.
Para analisar a condição socioeconômica dos estudantes, o parâmetro utilizado é o do nível de escolaridade de suas mães. Mães com até ensino fundamental ou ensino médio completo representam famílias de baixo nível socioeconômico, e o restante é considerado indicativo de alto nível socioeconômico.
A partir dessa perspectiva, o estudo revelou que o acesso à Educação Profissional e Tecnológica para estudantes de famílias com mães que concluíram o ensino fundamental ou menos, ou seja, de menor nível socioeconômico, apresenta um IRD de -16,6, nível que representa desequilíbrio pequeno de equidade. O dado apresenta maior desequilíbrio quando se analisa apenas o ensino da rede pública, com um IRD de -18,3.
Famílias com mães com ensino médio ou menos apresentam um nível de acesso ao EPT levemente melhor, registrando um IRD de -9,5, que é considerado equilíbrio relativo. No entanto, o IRD da rede estadual é -12,7, indicativo de desequilíbrio pequeno.
É possível dizer, analisando os dados, que o grupo com menos acesso à Educação Profissional e Tecnológica é o de nível socioeconômico baixo, apresentando dados de desequilíbrio mais significativos que os registrados na perspectiva de gênero e raça.
Resultados por região
A região Sudeste do país tem o maior desequilíbrio no acesso a cursos de EPT por nível socioeconômico. O estudo mostra que a diferença no acesso de estudantes com mães com EF ou menos é de um IRD de -31,2, seguida pela região Norte, com IRD -31,1. O dado dessas duas regiões é considerado um desequilíbrio médio. As demais regiões possuem desequilíbrios classificados como pequenos, sendo de -21,9 na região Centro-Oeste, de –18,6 no Sul -18,6 e de –15,5 no Nordeste.
Os dados da rede pública apresentam ainda mais desigualdade para estudantes com mães que possuem EF ou menos. O IRD da região Sudeste chega ao número -41,5, enquanto as outras regiões registram IRD similares de desequilíbrio pequeno, a região Sul apresenta -22,7, a Norte e a Centro-Oeste -20,2 e a região Nordeste -18,2.
Os dados de desigualdade de acesso ao EPT são ligeiramente melhores para estudantes com mães de ensino médio ou menos, ainda considerado baixo nível socioeconômico. A região de maior IRD é a região Norte, com -20,6, e depois dela a Sudeste com -20,4. O Centro-Oeste apresenta IRD de -14,6 e -10,1. A única região em equilíbrio relativo é a região Nordeste, com -4,9 de IRD.
Fazendo o balanço novamente com apenas dados da rede estadual de ensino, a região Sudeste volta a ter o IRD com maior desequilíbrio, de -29,5. A região Centro-Oeste e Sul também apresentam resultados de desequilíbrio pequeno, -16,7 e -13,3, respectivamente. As regiões Nordeste e Norte estão em equilíbrio relativo, Nordeste possui -8,4 de IRD e o Norte -4,7.
O estudo “Democratização da EPT no Brasil” do Itaú Educação e Trabalho possui papel importante de orientação na forma de implementação da Educação Profissional e Tecnológica de forma a mitigar desigualdades latentes no país, jogando o olhar para onde se encontram as maiores desigualdades que devem ser atendidas com a oportunidade de acesso ao ensino técnico.
“Aqueles com menor condição de renda não conseguem acessar os cursos técnicos, que têm potencial de garantir empregos dignos e melhores salários. A pesquisa evidencia distorções que precisam ser corrigidas. Acima disso é preciso que haja intencionalidade desde o desenho inicial delas para evitar que as desigualdades se perpetuem, instaladas nessas políticas públicas estaduais que nascem para organizar a EPT,” defende Ana Inoue, superintendente do Itaú Educação e Trabalho, em sua coluna para o Valor Econômico, “Desigualdades e Educação Profissional”.
A superintendente enxerga a EPT como forma de inserir a população de baixo nível socioeconômico de forma qualificada no mundo no trabalho, o ensino como forma de melhora de vida, e que por isso deve ser pensada para acolher esse grupo e diminuir a desigualdade social na sociedade. “A diminuição das desigualdades beneficia todo mundo. Já a sua permanência, compromete a possibilidade do país de efetivar seu potencial. Combater as desigualdades é responsabilidade de todos,” conclui Ana.