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Demanda por cursos técnicos cresceu na pandemia

Estudos/Pesquisas

Estudo avalia os impactos da Covid-19 na EPT e indica que, apesar da redução do número total de matrículas, jovens viram formação técnica como alternativa favorável

Pessoas sentadas ao redor de mesa com cadeira

Descrição gerada automaticamente com confiança baixa

A pandemia de Covid-19 provocou uma grave crise em todo o mundo e podemos ver seus impactos em todos os setores. Eles continuam a influenciar negativamente no campo educacional, por exemplo, incluindo na Educação Profissional e Tecnológica (EPT), modalidade que visa à formação integral do aluno com objetivo de prepará-lo para o mundo do trabalho e para a vida em sociedade. 

A pesquisa “Impactos da pandemia na oferta e no desenvolvimento de cursos técnicos”, realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e publicada em maio de 2023 ajuda a compreender os impactos da pandemia no Brasil na oferta de cursos técnicos, principalmente em 2020 e 2021. Uma primeira constatação é que, durante a pandemia, houve um recuo do número de matrículas nos cursos técnicos. Em 2020, o total de matrículas havia atingido 1.901.477 e passou, em 2021, para 1.851.541, representando uma perda de 50 mil matrículas e interrompendo a tendência de alta apresentada desde 2016.

Apesar dessa redução no geral, a tendência verificada nos cursos técnicos integrados foi positiva. A demanda por cursos integrados continuou crescendo a despeito da pandemia e de não haver aumento de matrículas no ensino médio regular tradicional. Segundo o estudo, isso aconteceu porque os jovens viram na formação integrada uma forma de entrar no mundo do trabalho em um momento difícil para a economia. 

Mesmo com o aumento de matrículas na formação integrada, entretanto, houve queda na demanda nas formações que tradicionalmente abrigam mais trabalhadores, como é o caso dos cursos subsequentes. Entre pessoas que não trabalham nem estudam houve queda na demanda por vagas. Quanto maior o número de pessoas nestas condições, menor o número de matrículas. Agravando a situação, o mercado de trabalho foi sensivelmente afetado pela pandemia, causando uma  elevação da taxa de desocupação especialmente entre os jovens.

De acordo com o estudo, a infraestrutura das escolas importa, e sua relevância se intensificou na pandemia. Os estabelecimentos que oferecem EPT reúnem melhores condições de infraestrutura tecnológica, o que permitiu maior suporte às atividades realizadas em caráter remoto. 

Em contrapartida, os cursos técnicos que necessitam de cenários de prática ou de ambientes simulados para o desenvolvimento de suas atividades e que não podem ser transportados para o ambiente virtual, bem como aqueles aos quais seja indispensável vivência das práticas de imersão no mundo do trabalho, foram significativamente afetados pela suspensão das atividades. 

A pesquisa usou dados do Censo Escolar da Educação Básica e da Pesquisa Resposta Educacional à Pandemia de Covid-19 no Brasil – Educação Básica, que buscou identificar as ações adotadas pelas escolas brasileiras diante da necessidade de medidas de enfrentamento da disseminação do vírus. Além disso, fez uso de informações disponibilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-c).

O impacto geral da pandemia na educação ainda não foi integralmente delineado e nem há um dado único capaz de mensurar os retrocessos. Além disso, boa parte das pesquisas costuma tratar da educação de forma ampla, sem dar conta dos efeitos específicos sobre a EPT. Ainda assim, este é um tema fundamental para o desenvolvimento de políticas que possam corrigir esses efeitos e melhorar a formação das juventudes.

Os dados revelados pelo Inep são importantes para estruturar políticas públicas de EPT focadas na retomada da oferta após a pandemia e na recuperação das aprendizagens dos estudantes. Ainda assim, o estudo destaca que a ausência de um sistema de avaliação da qualidade da EPT de nível médio consiste em um obstáculo para a apresentação de um quadro mais preciso dos impactos da pandemia nos cursos técnicos e nas escolas profissionais. 

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